quinta-feira, 28 de julho de 2011

Estudos de paramentaria: Pala de cálice, Igreja de Ílhavo, séc. 18

Paróquia de São Salvador de Ílhavo, Igreja matriz de Ílhavo
seda bordada a fio policromo e fio laminado de prata dourada
 © Hugo Cálão

sábado, 9 de julho de 2011

Figuras de Ílhavo - Conselheiro José Ferreira da Cunha e Sousa

Cons. José Ferreira da Cunha e Sousa
   O Conselheiro José Ferreira da Cunha e Sousa nasceu em Ílhavo, na antiga Casa do teatro, à rua Serpa Pinto, em 5 de Abril de 1813, sendo os seus pais Manuel Ferreira da Cunha, de Aveiro, Juiz de Órfãos, e Rita Pinheiro de Queiroz, do Porto.
   Fez os primeiros estudos em Ílhavo indo depois para Aveiro para a companhia de seu avô paterno, o Capitão-Mor Alexandre Ferreira da Cunha e Sousa. Ali completou os estudos liceais para ir frequentar a Universidade onde contava matricular-se no 1º ano de Leis em Outubro de 1829.
   Os sucessos políticos de 1828 e as ideias liberais que seu pai professava fizeram com que este fosse preso e passasse todo o tempo do reinado de D. Miguel nas cadeias, onde adquiriu o mal que o vitimou depois e despendeu tudo quanto possuía. E se não chegou a ver a sua família mendigar deve-o a este filho que trabalhava noite e dia leccionando instrução primária e escrevendo em diferentes cartórios, para sustentar os seus.
   Durante este período na sua terra natal, foi um dos fundadores em princípios de 1836 da Banda Filarmónica Gafanhense (ex. Música Velha de Ílhavo), juntamente com o conselheiro Dr. António José da Rocha (magistrado). Estes dois indivíduos, apaixonados amadores dramáticos, tinham organizado em Ílhavo uma companhia de curiosos que, devia estrear-se num teatro por aqueles construído numa dependência do passal da freguesia, junto à Igreja Matriz de Ílhavo.
Cons. José Ferreira da Cunha e Sousa
   Para o primeiro espectáculo haviam falado à orquestra da Fábrica da Vista Alegre, mas à última hora esta faltou, por imposição do director daquela fábrica, que era de política contrária à dos organizadores da companhia. Estes, magoados com o procedimento havido com eles, levaram-se em brio e fundaram uma Música, aqui chamando para esse serviço José Vicente Soares, ex.- regente de Bandas Militares e que fora também o primeiro regente da Banda da Vista Alegre.
Depois deste, teve vários regentes, sendo o que mais aturou no lugar, o ilhavense Francisco dos Santos Barreto, (homem de muitas aptidões). Por morte deste, a Sociedade decaiu muito, quase se extinguindo, até que, cerca de 1885, um grupo de ilhavenses supervisionado por João da Conceição Barreto, mais tarde funcionário do Ministério do Interior, reorganizou-a baptizando-a com o nome de Sociedade Filarmónica Ilhavense. Adoptando o nome de Música Velha, a banda, nesta altura, entrou numa fase de grande brilho, competindo com as mais afamadas bandas do distrito
   Com o triunfo da liberdade de seu pai, veio para José F. da Cunha e Sousa a tranquilidade.
   Continuou a trabalhar, exercendo então diferentes cargos públicos, o que lhe granjeou nome pela elevada competência a assiduidade com que os desempenhou.
   Em 11 de Abril de 1840 é nomeado 1º Oficial do Governo Civil do Distrito de Aveiro, em que bem depressa justificou a reputação de empregado habilissimo e muito trabalhador, de que vinha precedido. Militando no partido cartista, contava amigos dedicados também no campo contrário, o setembrista. No dia em que rebentou a chamada revolução da Maria da Fonte, 14 de Maio de 1846, José F. Cunha e Sousa, que estava exercendo as funções de secretário geral, recebeu, das 8 para as 9 da manhã, aviso de pessoa amiga, prevenindo-o de que pelo meio dia se efectuaria a revolução e que seriam presas as autoridades superiores do distrito. Deu pois pressa em comunicar tudo ao governador civil António José Vieira Santa Rita, que, não se mostrando surpreendido com a nova, pois havia recebido idêntico aviso, lhe disse:
   - Se quer, fuja; eu fico no meu posto, aguardado os acontecimentos.
   - Pois eu faço o mesmo - respondeu J. Cunha e Sousa - não abandono em caso algum a secretaria de V. exª.   Horas depois triunfava a revolução e os dois funcionários eram presos, sendo no dia seguinte conduzidos para Coimbra debaixo de prisão, onde lhe deram a cidade por homenagem.
   Após a revolução da Maria da Fonte, foi preso para Coimbra e demitido do seu cargo, sendo reintegrado em 10 de Janeiro de 1847. Por decreto de  3 de Novembro de 1858 foi promovido a secretário-geral que exerceu com a mais elevada competência.
   Em 4 de Junho de 1868 foi nomeado Governador Civil de Viseu, sendo transferido em 31 de Agosto do mesmo ano para Leiria. em 25 de Janeiro de 1869 passou a exercer o mesmo cargo em Coimbra, sendo transferido novamente para Viseu em 9 de Junho de 1870. Em 5 de Novembro de 1870 mais uma vez foi para Leiria, indo em 12 de Setembro de 1871 para Santarém, onde foi o promotor da constituição da primeira Constituição Administrativa para a instalação de um Museu Distrital de Santarém, e em 4 de Dezembro de 1877 para Portalegre. Finalmente em 1878 seguiu para o Distrito de Faro, onde se conservou apenas 3 meses, regressando a Aveiro com licença, sendo aposentado em 17 de Janeiro de 1879.
   Depois de aposentado ainda exerceu em Aveiro os cargos de Governador Civil Substituto, 1º Substituto do Juiz de Direito, Provedor da Misericórdia, Presidente da direcção da Caixa-económica, da Sociedade construtora do Teatro Aveirense, Presidente da comissão do Monumento ao Conselheiro Manuel Firmino.
   O Conselheiro Ferreira da Cunha e Sousa, não obstante os elevados cargos que desempenhou e forçado afastamento da sua terra, votou-lhe sempre verdadeiro afecto, de que é prova o valioso manuscrito que deixou sobre a história de Ílhavo e Aveiro, terminando a redacção da sua «Memória de Aveiro, no século XIX» em Novembro de 1908, interessante e por vezes minucioso documento sobre a cidade e os seus monumentos e instituições, manuscrito este publicado em 1940, no volume VI do «Arquivo do Distrito de Aveiro» (Arquivo, VI, p. 83)
   Devido aos relevantes serviços prestados, foi galardoado com o Hábito de Cristo em 14 de Junho de 1845 e a Comenda da mesma Ordem em 14 de Janeiro de 1867 e a Carta do Conselho em 7 de Setembro de 1871.
   Faleceu com a idade de 100 anos menos 4 meses no dia 19 de Novembro de 1912, já sem vista mas com perfeita lucidez de espírito, acalentado pelo afecto dos seus dois filhos D. Maria das Mercêdes e Alexandre Ferreira da Cunha.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Forte da Barra de Aveiro, Gafanha da Nazaré, Ílhavo - postais








Farol da Barra de Ílhavo - postais































Farol da Barra de Aveiro, Ílhavo


O farol da Barra, em Ílhavo é o maior farol de Portugal. Fica localizado na praia da Barra, cidade da Gafanha da Nazaré, concelho de Ílhavo, distrito de Aveiro. Foi, à data da sua construção, o sexto maior do mundo em alvenaria de pedra, continuando a ser atualmente o segundo maior da Península Ibérica, estando incluído nos 26 maiores do mundo. É uma torre troncocónica com faixas brancas e vermelhas e edifícios anexos.

Os repetidos sinistros marítimos ocorridos nas proximidades da foz do Vouga fizeram que se pensasse na imperiosa necessidade de iluminar a costa. Em 1841, quando a sua construção foi inicialmente proposta, a ideia era usar para combustível "as pinhas dos pinheiros os mais vulgares em que o reino todo abunda, extremamente resinosas e inflamáveis, de pouco custo, e que no distrito de Aveiro não valem mais de 50 réis o cento" movimentando o mecanismo circular de lanterna. Assim, por portaria de 8 de Janeiro de 1856 se determinou que o Diretor de Obras Públicas do distrito de Aveiro, de acordo com o capitão do porto e com o Diretor Maquinista de Faróis escolhessem, perto da barra, local apropriado para o farol, cujo projeto e orçamento deviam ser elaborados pelo Diretor de Obras Públicas. Em Julho de 1858 é rejeitada a ideia de aproveitar a torre se sinais do forte da Barra para a construção do farol, pensando-se como adequado um ponto situado a 200 metros da referida torre, quase no fim do paredão da barra. Até 1866 nada mais se fez, altura em que o inspetor de faróis, Francisco Maria Pereira da Silva, defendia, no seu plano de farolagem, a criação d um farol em Aveiro:
"na barra de Aveiro é de urgente necessidade um pharol de grande alcance e da maior intensidade de luz, não só para esclarecer a extensa e baixa praia, que divide ao meio, com 60 milhas de litoral em que as primeiras elevações se apresentam a grande distância do mar (seis a oito léguas), iludindo assim o navegador que julga pelo aspecto desta porção de costa, achar-se ainda mais afastado da terra; mas também para poder atravessar uma atmosphera que se conserva sobre esta planície cheia de densos vapores, emanados tanto das areias humedecidas, como das marinhas de sal e das águas que ali abundam na distância de muitas milhas; convém que seja esta barra de Aveiro a posição escolhida para um pharol de 1ª ordem e que seja sustentado por um elevado e bem distincto edifício, para prevenir de dia os navegadores da sua aproximação. Este pharol ali colocado também dispensa outro, que era necessário estabelecer para indicar a entrada da barra daquele porto".

Com projecto da autoria do engenheiro Paulo Benjamim Cabral, datado de 1879, a obra foi iniciada, primeiramente dirigida pelo engenheiro Silvério Pereira da Silva e, mais tarde, pelo engenheiro José Maria de Mello e Matos. As obras arrancaram em 1885 e o farol entrou em funcionamento em 31 de Agosto de 1893, tendo uma torre de 62 metros de altura e 66 metros de altitude. Foi equipado com um aparelho óptico de 1ª ordem (920 mm distância focal), com 4 painéis e com incandescência pelo vapor de petróleo com fonte luminosa. A fonte luminosa de reserva era um candeeiro de nível constante e a rotação óptica era produzida pela máquina de relojoaria. Neste mesmo ano entrou também em funcionamento um sinal sonoro, constituído por uma trompa Holmes, funcionando a ar comprimido e instalada no molhe. Em 1898 o sinal sonoro foi transferido para um alojamento construído em frente ao farol, procedendo-se à sua cobertura em 1902, protegendo assim o equipamento das chuvas. 
Em 1908 a máquina do sinal sonoro foi substituída por duas máquinas a vapor verticais, ficando assim uma máquina de reserva.
Em 1928 o aparecimento de uma fenda vertical na porção superior da torre levou ao seu reforço por meio de 14 anéis de cimento armado; na mesma altura, isolou-se a torre do restante edifício à custa de tijolos, visto recear-se que fossem oscilações a causa da ruptura verificada.
Foi construido em 1932 um esporão para defesa das infraestruturas do farol. O alojamento de sinal sonoro foi derrubado pelo mar em 1935, sedo instalado o sinal sonoro em cima do edifício do farol. No ano de 1936 o farol foi electrificado através da montagem de grupos electrogéneos. 
Foi instalado um rádio farol em 1946 com montagem de 2 emissores Marconi, modelo WB7, na frequência de 291,9 Kc/s, 20W de potência e alcance de 50 milhas.
Em 1947 o aparelho óptico foi substituido por outro de 3ª ordem, pequeno modelo (375 mm distância focal), dotado de paíneis aeromarítimos. A fonte luminosa passou a ser uma lâmpada de filamento trifásico, ficando como reserva a incandescência pelo vapor do petróleo.
Em 1950 passou a estar ligado à rede pública de distribuição de energia, sendo instalada uma lâmpada de 3000W. Para acesso à torre foi montado um elevador em 1958.
A potência da fonte luminosa foi reduzida em 1983, instalando-se uma lâmpada de 1000W.
O farol de Aveiro esteve representado em 1987 numa emissão filatélica e na exposição Faróis de Portugal inaugurada na Torre de Belém. Foi mandada cunhar uma moeda na ocasião, pela Direcção de Faróis. No Boletim de Dezembro de 1987 da associação Internacional de sinalização Marítima, teve honras de capa.
Em 1990 foi automatizado. Foram extintos os rádios faróis em 2001 por deixarem de ter interesse para a navegação. Foi feita a limpeza da cuba e flutuador e filtragem do mercúrio em 15 de novembro de 2008.